Salmo do Silêncio
Aqui estou,
Senhor, como grão de areia no deserto,
descalço à tua espera.
Aqui estou,
Senhor, de coração aberto, à escuta,
procurando paz
na tua resposta.
Aqui estou,
Senhor, como o coração da Virgem Maria, janela aberta,
de par em par para que o sol do teu ser se
torne fecundo
e penetre o meu
lar com a tua presença.
Quero estar
contigo, sentado, a teus pés, sem pensar,
nem procurar,
sensível ao que me advém.
Quero estar
gratuitamente contigo, aqui e agora,
atento à tua
palavra, totalmente presente nela.
Quero unificar o
meu ser com o teu,
a minha vida com
a tua, Senhor da aurora.
Tu és, Jesus, a
última palavra
acolhida no
silêncio de uma dura experiência.
Tu és, Jesus,
Boa Nova, que alegra o coração
Tu és, como o
silêncio das noites frias
que gota a gota
empapa a terra ressequida.
Jesus, quero
unificar o meu ser de homem.
Quero ser
pessoa. «Ser» e não «Ter». Ser na tua pureza
Quero abandonar
o ruído que me atordoa e escraviza.
Quero cortar as
amarras que cercam a minha liberdade.
Quero quebrar,
rasgar, forçar, abrir cadeias.
Quero que ponhas
o teu coração terno no pó
e no nada da
minha pobreza.
Quero conhecer,
saborear a tua misericórdia
para adoçar o
meu coração de pedra.
Quero que a luz
do teu evangelho ilumine o meu ser
e o arranque da
noite cega.
Dá-me, Senhor, o
autodomínio, o controlo
e a vigilância
pois desejo ser servidor do Teu reino.
Quero ser livre
e ainda me sinto manipulado.
Aqui estou,
Senhor, na tua presença, para que a tua palavra
me ilumine e me
faça regressar às origens,
ao paraíso e
assim possa descobrir o silêncio fecundo
do teu
misterioso amor por mim.
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